Minha pesquisa sobre os Terésios partiu do trabalho de Joaryvar Macêdo denominado A Estirpe de Santa Teresa, na maioria dos documentos que colhi sobre minha família existem referências sobre o Engenho de Santa Teresa.
Quando fui pesquisar sobre o referido engenho encontrei poucas referencias sobre o Engenho de Santa Teresa. Desta forma, parti em busca de mais dados sobre o mesmo.
SESMARIAS NO SIARÁ GRANDE
A conquista do território do Siará Grande ocorreu por meio do combate aos indígenas e da concessão das sesmarias para a atividade pastoril como pagamento aos serviços prestados na guerra contra os gentios. Foi nas duas últimas décadas do século XVII e na primeira metade do século XVIII que o processo de doação de terras intensificou-se na capitania e quando, também, aconteceram os maiores confrontos na conhecida “guerra dos bárbaros” [1].
A distribuição das sesmarias do Siará grande seguiu os caminhos dos principais rios: Jaguaribe, Banabuiú, Salgado etc. Feitas as concessões nas margens destes rios, passaram-se às doações nos seus afluentes. A formação de adensamentos populacionais e vilas na capitania também estava ligada ao movimento de ocupação de terras para a criação de fazendas de gado e, em muitos casos, era a partir do fluxo do gado nestas áreas que as povoações começavam a ser formadas [1].
A associação entre doação das sesmarias, para o desenvolvimento da atividade da pecuária, e o combate ao gentio foi feita, principalmente, no período que compreende o final do século XVII e a primeira metade do século XVIII [1].
Para a coroa, as terras que pertenciam aos indígenas eram devolutas, desaproveitadas e passíveis de concessão. Nos pedidos de várias sesmarias na capitania do Siará grande, os solicitantes ressaltaram a justificativa, acrescentando que, se doadas as terras, passariam a gerar lucros mediante o pagamento dos dízimos reais [1].
A conquista das terras indígenas do Siará grande teve como principal vetor as ribeiras dos rios. A ribeira do Jaguaribe se constituiu como principal núcleo de combate aos gentios e posterior concessão de sesmarias para a criação de gados vacuns e cavalares. O pagamento das tropas e dos sujeitos que as organizavam e as mantinham foi feito com a doação das sesmarias [1].
A ribeira do Jaguaribe foi o caminho de entrada por onde os conquistadores vindos das capitanias do Rio Grande e de Pernambuco avançaram na conquista das terras do Siará grande, abrindo novas fronteiras. Como pode ser visto no Mapa 01, abaixo, a ribeira estava na divisa do Siará grande com as capitanias do Rio Grande e de Pernambuco. Por meio da ribeira do Jaguaribe, também se podia fazer a saída para a capitania do Piauí [1].
Nos registros das datas de sesmarias da capitania, a primeira concessão de terras na ribeira do Jaguaribe foi feita em janeiro de 1681 aos requerentes procedentes do Rio Grande que estavam em guerra contra os indígenas e argumentavam na solicitação:
(...) que os mais delles Tinhão servido a V. Alteza em paz em guerra com Pesoas e fazendas eram terras assim no sertão como abeira mar da dita Capitania e sendo tantos em numero com suas familias não tinhão terras pera aposentar seus Gados e mais Criasoins e porque nas Ultimas povoasoins do Rio Grande pera abanda do Norte havia hú Rio que se chamava Jaguaribe o qual nunca fora Povoado de Brancos e dado caso que algumas Pesoas o pedisem não fizerão as Povoasões no termo da Ley e estão as terraz devolutas em Prejuiso dos dizimos Reais. (APEC – Datas de Sesmarias do Ceará e índices das datas de sesmarias: digitalização dos volumes editados nos anos de 1920 e 1928. Data de sesmaria nº 35. Vol. 1. Ano 1681).
A qualificação dos requerentes evidencia a relação destes com o combate aos gentios no Rio Grande. O serviço prestado da guerra aos indígenas no Rio Grande foi a justificativa, juntamente com a criação de gados, para o pedido das terras da ribeira do Jaguaribe. Manuel de Abreu Soares, capitão-mor governador da capitania estava entre os quinze solicitantes. Além de Manuel de Abreu Soares, o tenente Teodosio Grasciman, o capitão Cypriano Lopes Pimentel, Manoel da Cunha e Gregorio Grasciman de Abreu, dentre outros, todos filhos e moradores no Rio Grande [1].
Os requerentes solicitavam cinco léguas de terras para cada um, pois eram pessoas beneméritas de cabedal para descobrirem e povoarem as áreas pedidas. Entretanto, o provedor-mor da Fazenda Real recomendava que não se desse a quantidade requerida, pois estariam sendo doadas 375 léguas de terras aos 15 solicitantes e estes não teriam cabedais iguais, podendo ficar espaços sem aproveitamento. Recomendava o provedor-mor que se doassem a cada um somente três léguas [1].
Interessante observar que quanto mais alta a patente era maior a quantidade de terra recebida. Outro ponto a ser destacado é a preocupação em relação a existência de possíveis sesmeiros anteriores. Caso isso ocorresse seria assegurada a concessão aos conquistadores e não aos primeiros povoadores. Estes deveriam receber terras em outro espaço. Esta determinação realça a importância da associação entre sesmaria e serviços prestados a Coroa Portuguesa [1].
Nas medições e demarcações das sesmarias as medidas utilizadas eram, de acordo com as concessões, a légua ou a braça. Para o caso da capitania do Siará grande, que teve como padrão a concessão de três léguas de comprimento por uma de largura, a área doada para o sesmeiro totalizava 13.068 hectares. Este cálculo leva em consideração que “cada légua media 3.000 braças e cada braça tinha dez palmos de comprimento ou 2,2 metros” [3]. Apesar da quantidade de sujeitos envolvidos e da preocupação em realizar o procedimento de forma a dirimir dúvidas acerca da extensão de uma determinada concessão, o processo era realizado de forma grosseira tendo os aspectos geográficos da área – rios, riachos, elevações, serras, etc – e sociais como marcos de demarcação [1].
AS SESMARIAS DE ÂNTONIO MENDES LOBATO
Os Mendes Lobato foram uma das primeiras famílias a explorar o Cariri Cearense, a primeira referência a estes Mendes Lobato, são relativas a um certo Coronel João Mendes Lobato que em 1610 seguindo o caminho estabelecido por João Correia Arnaud, com uma força de 100 homens chegou as cercanias de onde hoje chamamos de Icó [4].
Conforme nos ensinam os Capitães-mores Manuel Carneiro da Cunha e Manuel Rodrigues Ariosa, ambos posseiros das terras da "ribeira do Jaguaribe", foram os primeiros a receber suas sesmarias na região do Cariri em 12/01/1703, localizadas a começar da Cachoeira dos Cariris até o fim da lagoa dos Cariris [4].
Airosa foi de fato o primeiro povoador efetivo do Cariri, cujas terras por sua morte, em 1716, passaram a herdeiros e estes delas fizeram venda ao Capitão Antônio Mendes Lobato. O Capitão Antonio Mendes Lobato, casado com Antonia Ferreira Lobato, teve muitos filhos, estes se estabeleceram na região [4].
O mesmo Capitão Antonio Mendes Lobato obteve mais terras na região dos sertões do Cariri através de inúmeras requisições de Sesmarias, incluindo a requisição de Sesmaria 1389 [5].
Dados da concessão CE 1389 dada á Antonio Mendes Lobato em 29/12/1725, conforme segue:
Informações sobre a Sesmaria:
Localidade: Sertão dos Cariris
Area (hectare): 18 léguas de comprimento x 12 léguas de largura
Confrotante Norte: Ingazeiras
Confrotante Sul: Serra Grande
Confrotante Leste: Riacho Imbuzeiros
Confrotante Oeste: Rio de São Francisco
Limites:
A sesmaria requerida possuía três léguas de comprimento com duas léguas de largura para cada um dos suplicantes Antonio Mendes Lobato, Jose Lobato e Joao Mendes Lobato e mais de 3 de seus colegas, confrontando com as Ingazeiras, com a serra Grande, com o riacho Imbuzeiros e com o rio de São Francisco, nas sobras de terras de uma data de sesmaria que foi pedida pelo comissário Antonio Mendes Lobato (este sesmeiro possuía sete sesmarias: CE 0412, CE 0784, CE 0786, CE 0865, CE 0866, CE 1078 e CE 1080; mas, não foi possível identificar se alguma delas corresponde a referida nesta carta, CE 1389) e outros companheiros.
Como foi dito desta concessão o Capitão Antonio Mendes Lobato ficou com 1/6 da área total. Dado que parte desta área foi vendida ao Capitão Domingos Paes Landim em 1731, podemos aproximar a área que ficou sob sua posse:
O ENGENHO DE SANTA TERESA
O Capitão José Paes Landim, alagoano e já radicado no Cariri pelos começos da terceira década do Século XVIII, adquiriu terras da Família Lobato.
Os Lobatos, originários de Alagoas, são contados entre os primeiros concessionários de sesmos no sul do Ceará, onde monopolizaram imensos latifúndios rurais. Chegaram a possuir dezenas de léguas, em quadro, quer obtidas em sesmarias quer compradas [6].
No Inventário do Capitão Antonio Mendes Lobato, de 1719, aparecem, entre outras, as terras do sul cearense denominadas Cachoeira, Canabrava, Lagoa do Carité, Santa Teresa, Jenipapeiro, Brejo da Barbosa, Muriti, topônimos bastante conhecidos da gente do Cariri [6].
Foi precisamente aquela porção chamada Santa Teresa que adquiriu o colonizador Capitão José Paes Landim, propriedade que organizou e cultivou e onde fundou seu engenho, com o mesmo nome, entre as quais sedes municipais de Missão Velha e Barbalha - Engenho de Santa Teresa [6].
O primeiro Engenho do Cariri
Os autores em sua maioria acreditam que à chegada do primeiro engenho de cana-de-açúcar ao Cariri aconteceu em 1731, no Engenho Santa Teresa, entre Barbalha e Missão Velha, tecnologia trazia pelo sergipano José Paes Landim.[7]
Referências Bibliográficas
[1] SILVA, Rafael Ricarte da. O SERTÃO COMO ESPAÇO A SER CONQUISTADO: DOAÇÃO DE SESMARIAS E FORMAÇÃO DE UMA ELITE CONQUISTADORA NA CAPITANIA DO SIARÁ GRANDE (1679-1750). Natal-RN, 2013. XXVII Simpósio Nacional de História - ANPUH, Link: http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1364953037_ARQUIVO_Artigo-ANPUH2013-RafaelRicartedaSilva.pdf , Acessado em: 13/02/2021 17:55.
[2] NOGUEIRA, Gabriel Parente. Fazer-se nobre nas fímbrias do império: Práticas de nobilitação e hierarquia social da elite camarária de Santa Cruz do Aracati (1748-1804). Dissertação (Mestrado em História), Centro de Humanidades, Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, 2010.
[3] PINTO, Francisco Eduardo. Autos de medição e demarcação de sesmarias. In: MOTTA, Márcia; GUIMARÃES, Elione. (Orgs.). Propriedades e Disputas: fontes para a história do oitocentos. Guarapuava: Unicentro; Niterói: EDUFF, 2011, p. 19-24.
[4] GIRÃO, Raimundo, Bandeirismo Baiano e Povoamento do Ceará. Revista do Instituto do Ceará, Fortaleza-CE, 1948. Link: http://www.institutodoceara.org.br/revista/Rev-apresentacao/RevPorAno/1948/1948-BandeirismoBaianoPovoamentodoCeara.pdf, Acessado em: 13/02/2021 21:25.
[5] Plataforma SILB, Concessão CE 1389 de 1725. Link: http://silb.cchla.ufrn.br/sesmaria/CE%201389, Acessado em: 13/02/2021 21:25.
[6] Macêdo, Joaryvar. Os Saraiva. Revista do Instituto do Ceará, Fortaleza-CE, 1984. Link: https://www.institutodoceara.org.br/revista/Rev-apresentacao/RevPorAno/1984/1984-SaraivasdoCariri.pdf, Acessado em: 13/02/2021 21:25.
[7] Rodrigues, Antonio. Vestígios de engenhos do Cariri podem ser reunidos em museu. Link: http://www.canaonline.com.br/conteudo/vestigios-de-engenhos-do-cariri-podem-ser-reunidos-em-museu.html, Acessado em: 13/02/2021 23:25.